domingo, 10 de março de 2013

As crianças que não queremos ver

Aproveitando o vídeo que minha querida amiga Andréa postou (Vida Maria), gostaria de publicar aqui um fragmento da  entrevista dada a Folha de São Paulo pelo menino-soldado de Serra Leoa, Ishmael Beah.

Gostaria de sugerir que leiamos a esse fragmento, pensando quais são as formas de subordinar as crianças a modelos prontos e a ideologias fortemente difundidas. De maneiras diferentes, mas igualmente condicionantes, formamos cidadãos que irão acreditar numa verdade única para sua vida. Por isso, devemos cotidianamente buscar melhores condições para nossas crianças. 

Elas carregarão consigo maneiras múltiplas de ver o mundo ou se calarão perante as novas barbáries?




FOLHA - Qual era a tática utilizada pelas forças em guerra para aliciar crianças como você?
BEAH 
- Um dos fatores necessários é que tenha sido destruído tudo o que a pessoa conhecia. O segundo é a coação. Eles não estão lhe dando uma escolha de entrar para o grupo. Se você não entrar, você morre. Eles lhe dão todos os tipos de droga e você também fica traumatizado por ser exposto a tantas mortes violentas. Eles fazem você assisti-los matando como uma maneira de torná-lo cúmplice dessa loucura e eles forçam você a fazer as mesmas coisas horríveis. A vida se torna somente isso. Até o ponto que o grupo se torna a família para você.
FOLHA - Como você se sentiu ao ser resgatado pelo Unicef?
BEAH 
- No começo eu estava muito triste e irritado. Todos estávamos. Com toda a lavagem cerebral, eu passei a acreditar que eu fazia parte daquele grupo, até o fim. É preciso muito trabalho para desfazer a lavagem cerebral.

(...)

FOLHA - Você visitou recentemente o morro do Vidigal, no Rio. Há uma semelhança da situação das crianças envolvidas com tráfico de drogas no Brasil com a que você viveu em Serra Leoa?
BEAH 
- Mesmo que nas favelas do Brasil não seja uma situação de guerra como era no meu país, as razões que levam as crianças a fazer esse tipo de coisa são muito similares. Você cresce em lugares onde não há opção. Não existe uma oportunidade econômica e a violência se torna uma opção. É como quando, na guerra, você perde sua família, perde tudo, e você não tem nada o que fazer da sua vida. As pessoas o podem manipular facilmente; eu acho que é a mesma situação.

Para ver mais sobre o assunto acesse: 
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft0607200710.htm
http://www.observatoriodainfancia.com.br/article.php3?id_article=213

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