Conseguir o equilíbrio, atingir uma posição estável após superar
dificuldades e sobressaltos. Esse é um processo básico na trajetória do
ser humano, uma ação continuada que permite, a um só tempo, sua evolução
e sua sobrevivência. Para suprir as necessidades básicas (como saciar a
fome), o homem precisou enfrentar situações inéditas (para ficar no
exemplo da nutrição: aprender quais frutos eram comestíveis, desenvolver
instrumentos de caça e criar processos industriais para a esterilização
de alimentos). A obra de Jean Piaget
(1896-1980) defende que esse processo também ocorre com a inteligência.
Influenciado pelas teorias evolutivas da Biologia, o cientista suíço
demonstrou que a capacidade de conhecer não é inata e nem resultado
direto da experiência. Ela é construída pelo indivíduo à medida que a
interação com o meio o desequilibra - ou seja, o desafia -, exigindo
novas adaptações que possibilitam reequilibrar-se, numa caminhada
evolutiva. A inteligência humana se renova a cada descoberta.
O
argumento de Piaget é que, desde o nascimento, a criança constrói
infinitamente suas estruturas cognitivas em busca de uma melhor
adaptação ao meio. No começo de seus estudos, ele utilizou o termo
"adaptação" para nomear o processo pelo qual as crianças passam de um
nível de conhecimento simples a outro mais complexo. Alguns anos mais
tarde, optou pelo conceito de equilibração e, mais tarde, à ideia de
abstração reflexiva. Como desses três sinônimos equilibração é o termo
mais conhecido, é a ele que vamos nos referir ao longo da reportagem.
Sua ocorrência se dá por meio de duas etapas complementares. A primeira
delas, chamada de assimilação, é uma ação externa: consiste em utilizar
os chamados esquemas de ação (formas como interagimos com o mundo, como
classificar, ordenar, relacionar etc.) para compreender as
características de determinado conceito. A segunda, a acomodação, é um
processo interno: diz respeito à construção de novas estruturas
cognitivas (com base nas pré-existentes, mas ampliando-as). Isso permite
assimilar a novidade, chegando a um novo estado de equilíbrio.
FONTE: http://revistaescola.abril.com.br
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